Hasta la Vitória, Siempre!

terça-feira, outubro 09, 2007

“Velha Maria”





















velha Maria, vais morrer
Quero dizer-te qualquer coisa de sério
A tua vida foi um rosário completo de agonias
Não tiveste homem amado, nem saúde, nem dinheiro
Apenas a fome para ser compartilhada;
Quero falar da tua esperança,
de três distintas esperanças
que a tua filha fabricou sem saber como
Pega nesta mão que parece a de um menino
nas tuas, polidas pelo sabão amarelo.
Esfrega os teus calos duros e puras verrugas
na mórbida vergonha da minha mão de médico.

Escuta avó proletária:
Crê no homem que chega
Crê no futuro que nuncas verás.
Não receies o deus inclemente
que por toda a vida te mentiu a tua esperança;
nem peças clemência à morte
para ver crescer as suas pardas carícias;
os céus são surdos e quem manda em ti é o escuro
e sobre tudo isso terás uma vingança vermelha
juro-te pela exacta dimensão dos meus ideais
Morre em paz, velha lutadora

Vais morrer, velha Maria;
Trinta peças de mortalha
Te dirão adeus com o seu olhar,
Um dia destes quando partires

Vais morrer, velha Maria
Ficarão mudas as paredes da sala
quando a morte se conjugar com a asma
e consumarem o seu amor na tua garganta.

Essas três carícias construídas em bronze
(a única luz que alivia a tua noite)
esses três netos vestidos de fome
seguravam os nós dos teus velhos dedos
onde sempre encontravam um sorriso
isso era tudo, velha Maria.
A tua vida foi um rosário de magras agonias
Não houve homem amadao, saúde, alegria
Apenas a fome para ser compartilhada
A tua vida foi triste, velha Maria

Quando o anúncio do eterno descanso
Entorpece a dor nas tuas pupilas
Quando as tuas mãos de luta perpétua
absorvam a sua última carícia
pensas neles, e choras
Pobre velha Maria
Não! Não o faças!
não chores ao deus indolente
que por toda a vida te mentiu a tua esperança;
não peças clemência à morte
a tua vida foi horrivelmente vestida de fome,
acaba vestida de asma
porém quero anunciar-te
com a voz baixa e viril da esperança
a mais vermelha e viril das vinganças,
quero-o jurar pela exacta
dimensão dos meus ideais.
Pega nesta mão que parece de menino
nas tuas, polidas pelo sabão amarelo
esfrega os teus calos duros e puras verrugas
na mórbida vergonha da minha mão de médico
Descansa em paz, velha Maria
Descansa em paz, velha lutadora
Todos os teu netos verão a aurora
JURO-O!

Ernesto “Che” Guevara, (poema dedicado a uma paciente sua à beira da morte, quando Guevara desempenhou funções de médico num hospital do México, pouco antes da sua partida no Granma rumo à luta de guerrilhas na Serra Maestra).
Via Tlaxcala